Mensagem do Presidente da Rússia Sr. Vladimir Putin em relação aos acontecimentos trágicos em Besslán.
Na nossa terra ocorreu uma tragédia terrível. Durante todos os últimos dias, cada de nós sofreu profundamente deixando passar no seu coração tudo que acontecia na cidade russa de Beslan, onde deparámos não apenas com assassinos, mas com aqueles que utilizaram armas contra crianças indefesas. Agora dirijo-me com palavras de apoio e compaixão em primeiro lugar àqueles que perderam o que há de mais caro na vida - os seus filhos, familiares e próximos. Peço que nos recordemos de todos os que pereceram à mão dos terroristas nos últimos dias. Na história da Rússia houve muitas páginas trágicas e acontecimentos graves. Vivemos nas condições que se formaram depois da desintegração de um enorme e grande Estado. Um Estado que se tornou incapaz nas condições do mundo em rápida evolução. Mas, apesar de todas as dificuldades, conseguimos manter o núcleo deste gigante - a União Soviética. Denominámos o novo país Federação Russa. Todos nós esperávamos mudanças, mudanças para melhor. Contudo, verificámos estar absolutamente mal preparados para muito do que mudou na nossa vida. Por quê? Vivemos em condições de economia de transição, que não corresponde ao estado e nível de desenvolvimento da sociedade e do sistema político. Vivemos em condições de agravamento dos conflitos internos e contradições interétnicas que anteriormente eram rigidamente reprimidos pela ideologia dominante. Deixámos de prestar a devida atenção aos problemas da defesa e segurança, permitindo que a corrupção atingisse as esferas judiciais e de protecção da ordem legal. Por outro lado, o nosso país - que outrora tinha o mais potente sistema de protecção das fronteiras externas - ficou instantaneamente desprotegido tanto do Ocidente, como do Oriente. Passarão muitos anos e serão precisos milhares de milhões de rublos para criar novas e modernas fronteiras realmente protegidas. Também aqui poderíamos ser mais eficazes se actuássemos atempada e profissionalmente. Em geral, devemos reconhecer que não soubemos compreender a complexidade e o perigo dos processos que decorrem no nosso próprio país e no mundo. Em qualquer caso, não conseguimos reagir adequadamente a eles, dando provas de fraqueza. E nos fracos é que se bate. Uns querem tirar de nós uma "boa fatia", outros ajudam. Ajudam supondo que a Rússia - como uma das maiores potências nucleares - ainda representa uma ameaça para eles. Por isso é necessário eliminar essa ameaça. E o terrorismo é, sem dúvida, apenas um instrumento para alcançar estes objectivos. Nós, como já disse reiteradamente, enfrentámos várias vezes crises, revoltas e actos terroristas. Mas aquilo que aconteceu agora é um crime terrorista desumano sem precedentes pela sua crueldade. Não se trata de um desafio ao Presidente, Parlamento ou Governo. É um desafio a toda a Rússia, um desafio ao nosso povo. Trata-se de um ataque contra o nosso país. Os terroristas acham que são mais fortes do que nós. Que são capazes de nos meterem medo com a sua crueldade, paralisar a nossa vontade e dividir a nossa sociedade. Dir-se-ia que temos uma escolha - oferecer resistência ou concordar com as exigências terroristas. Ceder, dar-lhes a oportunidade de destruir e "desmembrar" a Rússia, alimentando a esperança de que afinal de contas venham a deixar-nos em paz. Na qualidade de Presidente, de chefe de Estado da Rússia, de homem que jurou defender o país, a sua integridade territorial, e de simples cidadão da Rússia, estou convicto de que na prática não temos nenhuma escolha. Porque basta deixá-los chantagear-nos e cair no pânico para condenar milhões de pessoas a uma infinita cadeia de conflitos sangrentos, à semelhança das tragédias ocorridas no Karabakh, no Pridnestrovie e outras. Não se pode deixar de ver o óbvio. Não se trata de tentativas isoladas de intimidação, nem de incursões pontuais de terroristas. Trata-se de uma intervenção directa do terror internacional contra a Rússia. De uma guerra total, cruel e de larga escala, que ceifa novas e novas vidas dos nossos compatriotas. Toda a experiência mundial ensina, infelizmente, que tais guerras não duram pouco tempo. Sendo assim não podemos, nem devemos viver despreocupadamente como o temos feito até agora. Somos obrigados a criar um sistema de segurança muito mais eficaz: exigindo dos nossos órgãos judiciários acções que sejam adequadas ao nível e envergadura das novas ameaças. O mais importante, porém, é a mobilização da nação face a esta ameaça geral. A prática de outros países demonstra que os terroristas encontram uma resistência eficaz precisamente quando deparam não só com a força do Estado, mas também com uma sociedade civil organizada e coesa. Estimados compatriotas. Os que enviaram os terroristas para cometer este crime horrível tiveram por objectivo incitar a discórdia entre os nossos povos, intimidar os habitantes da Rússia e desencadear uma guerra intestina no Cáucaso do Norte. Neste contexto gostaria de dizer o seguinte. Primeiro. Dentro em breve será aprovado um pacote de medidas para reforçar a unidade do país. Segundo. Considero indispensável criar um novo sistema de interacção das forças e estruturas responsáveis por controlar a situação no Cáucaso do Norte. Terceiro. Há que criar um eficaz sistema de gestão anticrise, incluindo perspectivas completamente novas no que respeita à actividade dos órgãos judiciários. Quero assinalar em especial: todas as medidas serão tomadas de acordo com a Constituição do país. Caros amigos. Todos estamos a viver horas difíceis e de profunda dor. Gostaria de agradecer a todos os que souberam revelar firmeza e responsabilidade civil. Fomos e sempre seremos mais fortes do que eles, pela nossa moral, coragem e solidariedade humana. Vi tudo isto hoje à noite. Em Beslan, dominado pela mágoa e a dor, as pessoas cuidavam-se e apoiavam-se uma às outras ainda mais. E não tiveram medo de sacrificar as suas vidas para que outros possam viver em paz. Mesmo nas condições mais desumanas souberam manter-se seres humanos. É impossível resignarmo-nos à dor das perdas. No entanto, as provações aproximaram-nos ainda mais uns dos outros, obrigando a rever muita coisa. Hoje devemos estar juntos. Só assim venceremos o inimigo!" |